domingo, 14 de junho de 2015

A complexidade das plantas

As plantas são formadas por misturas complexas de compostos químicos que podem variar consideravelmente dependendo dos fatores ambientais e genéticos. Diferentemente de muitos outros organismos vivos, emprega quantidade significativa de energia e nutrientes para a produção de substâncias que não parecem ter papel importante para a construção de sua estrutura. Alguns desses produtos têm funções ecológicas como atraentes ou repelentes, pigmentos que dão cor a flores e frutos; outros compostos têm função protetora contra predadores fornecendo os sabores amargos às plantas, tornando indigesta ou venenosa. Há aqueles também envolvidos nos mecanismos de defesa das plantas contra diferentes patógenos, atuando como pesticidas naturais.

Pode-se observar, então, que elas têm uma variedade de substâncias produzidas, com funções diferentes e muitas vezes contraditórias. Nomeia-se como princípio ativo aquelas substâncias que exercem efeito farmacológico conhecido em outro organismo, como o do ser humano. A avaliação do potencial terapêutico das plantas e de alguns de seus constituintes, tais como flavonoides, alcaloides, taninos, lignanas, entre outras, tem sido objeto de incessantes estudos. Existem alguns sucessos como o uso da substância rutina, usada no tratamento de varizes, que é extraída de vegetais como alho, soja, vinho e tomate.

Algumas plantas podem causar efeitos danosos ao organismo do indivíduo, como nas intoxicações. E podem ser usadas, inclusive, como drogas de recreação. Porém, quando isolados, os princípios ativos benéficos podem passar a ter utilização segura. Podemos ter como exemplo o ópio, digitalis e a maconha, como são popularmente conhecidos.

O ópio é extraído da papoula, nome popular do Papaver somniferum, conhecido há séculos, que provoca, inicialmente, euforia seguida de propriedades sedativas e analgésicas. O uso habitual leva à dependência química, física e intelectual. A depender da dose utilizada, pode levar a morte. Com o avanço das pesquisas, seus princípios ativos tornaram-se conhecidos e foram isolados, podendo alguns deles serem utilizados com cautela e dentro de uma situação racional. Dentre eles temos a codeína (antitussígeno), a narcotina (antitussígeno e espasmolítico) e a morfina (analgésico). Por outro lado a heroína, extraída dela, tem um potencial de dependência e efeito muito maior, sendo utilizada como droga de abuso.

Cannabis sativa é um arbusto e seus efeitos medicinais e euforizantes são conhecidos há mais de 4 mil anos.  Contém aproximadamente 400 substâncias químicas, entre as quais se destacam pelo menos 60 alcaloides conhecidos como canabinoides. Eles são os responsáveis pelos seus efeitos psíquicos e classificados em dois grupos: os canabinóides psicoativos e os não-psicoativos, por exemplo, como o canabidiol que vem sendo estudado apresentando efeitos farmacológicos favoráveis, sem apresentar os efeitos adversos conhecidos pelo uso da maconha. Outro exemplo marcante é o da Digitalis purpurea L. e a Digitalis lanata que foram a origem da descoberta de medicamentos para o coração. Delas extrai-se glicosídeos cardiotônicos chamados cardenolídeos, sendo os mais utilizados a digoxina.

Dentro desse parâmetro, é importante a compreensão que as plantas podem apresentar inúmeros benefícios à saúde, desde que usadas dentro de uma situação racional. Em alguns casos, o limite entre atividade terapêutica e dependência química será bem estreito, sendo necessário estudos aprofundados para retirada de princípios ativos que possam trazer o benefício com menor dano.

Marina Maria de Oliveira – 9° semestre do curso de Farmácia

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