quarta-feira, 6 de maio de 2015

Transtornos alimentares


Para o estudo dos órgãos humanos, por parte da ciência, sempre é possível um modelo animal próximo aos seres humanos, permitindo experimentos mais radicais, obviamente precedido pela necessária discussão ética. Em algumas situações, é possível estudar diretamente na pessoa por meio de instrumentos ou pela observação direta. Mas isso é impossível para o cérebro, pois nenhum animal é capaz de pensar como nós. 

Além do mais, não é possível estudar o cérebro no momento em que a mente sente emoções, pois não é possível “abrir a cabeça” para ver como está funcionando. E o estudo do cérebro só faz sentido quando vivo, porque uma vez morto a troca eletroquímica não acontece. Com o desenvolvimento dos exames de imagens, é possível um mapeamento mais definido de qual região do cérebro é responsável em cada ação realizada. Cada conjunto específico de células do cérebro assume mais claramente uma função, detectado pelo nível de atividade nas imagens. Sabe-se onde a luz é processada ou onde ocorre o pensamento consciente; qual ponto é responsável pelo movimento e assim vai.

Com isso, já se tem muita informação sobre o funcionamento químico-elétrico de cada conjunto celular. O excesso ou a falta de determinados mediadores químicos irá produzir desvios de conduta que podem ser ajustados com a medicação, ou para aumentar ou diminuir as substâncias responsáveis pela condução nervosa. Porém, ao se analisar os transtornos alimentares, a proposta terapêutica medicamentosa ainda não é bem ajustada.

O tratamento medicamentoso de três transtornos alimentares têm sido estudos: bulimia nervosa, anorexia nervosa e compulsão alimentar temporária. Na bulimia, consome-se substâncias laxativas e autoindução de vômito; na anorexia nervosa ocorre percepção doentia do corpo, provocando ingestão insuficiente de alimentos, causando emagrecimento exagerado; e a compulsão alimentar traz muito risco para a obesidade.

Cada transtorno tem indicações de medicamentos diferentes. A bulimia e a compulsão alimentar têm sido tratadas com medicamentos antidepressivos, porém nem todos os representantes dessa classe parecem apresentar resultados positivos. Já, a anorexia nervosa não tem resultados claros e definitivos com o uso de medicamentos. Inclusive, os antidepressivos mostram resultados contraditórios, melhorando em algumas situações e não tendo efeito em outras. Menos da metade das pessoas tem sucesso no tratamento.

Porém, não é possível um tratamento exclusivamente medicamentoso, sendo fundamental a psicoterapia. Mudanças comportamentais também são importantes. O ideal estético da sociedade também tem de mudar. As modelos nas passarelas não deveriam ser tão magras, há de se mudar a referência de beleza, principalmente para as adolescentes.

Prof. Dr Paulo Angelo Lorandi, farmacêutico pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas-USP (1981), especialista em Homeopatia pelo IHFL (1983) e em Saúde Coletiva pela UniSantos (1997), mestre (1997) e doutor (2002) em Educação (Currículo) pela PUCSP. Professor titular da UniSantos. Sócio proprietário da Farmácia Homeopática Dracena.


Texto originalmente publicado no Jornal da Orla em 05/05/2015


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