quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Medicamentos autorizados

O surto de ebola na África está trazendo muitas dúvidas e questionamentos. A autorização do uso dos medicamentos, até então em caráter experimental, deu a sensação de que eles somente surgiram quando americanos e europeus foram afetados pelos vírus. A parte de informações que não se têm efetivamente acesso, há certos fatos que parecem ser coerentes com procedimentos propostos para o lançamento de um novo medicamento.
Todo medicamento tem de passar por várias fases de pesquisa antes de ser liberado para uso comercial. Esses procedimentos são consagrados pela ciência, sendo importante iniciar-se, obrigatoriamente, em células ou elementos não vivos. Quando houver conhecimento suficiente, liberam-se os estudos com animais de todos tipos, como camundongos, ratos, cães, ou outros. Para o ebola, os testes estavam sendo em macacos.

Com o conhecimento adquirido com os estudos nos animais, mais experimentos precisam ser realizados em pessoas voluntárias e antes de ser liberado para uso comercial. Esses testes, divididos em três fases, serão capazes de determinar se o medicamento é seguro para humanos, qual a melhor dose e forma de usar, além conhecer as reações adversas específicas nas pessoas. Somente após tudo isso bem documentado, as agências regulatórias dos países aprovam o uso desses medicamentos em seus países. Mesmo depois de lançado no comércio, os estudos sobre os medicamentos prosseguem detectando-se novas reações que podem surgir em circunstâncias não previstas.

Em situações específicas, como a que estamos vivendo com o ebola, as autoridades permitem que o uso dos medicamentos seja liberado antes de totalmente testados. No caso do ebola, com a mortalidade podendo atingir 90%, são aceitáveis riscos maiores provenientes do medicamento, diferentemente de outras doenças. Em uma situação semelhante, o Brasil precisou liberar previamente vacinas contra gripe H1N1 que não estavam totalmente testadas. Naquele caso porém, os testes já estavam mais avançados e, na eminência da epidemia de gripe, considerou-se mais prudente a liberação.

Os testes são importantes porque, mesmo o sucesso aparente com os dois norte-americanos que a substância usada contra o ebola trouxe, ainda esta não pode ser considerada aprovada. Isso porque os seres humanos não são iguais, assim algumas coisas podem dar certo para uns e para outros não. Quando testados em um número maior de pessoas, a segurança e a eficácia da substância testada serão definidas pelo tipo de resposta que acontecer na maioria e que nunca será de 100%. Essa margem de segurança tem de ser definida em função da gravidade da doença. É sempre uma relação entre o risco de a pessoa sofrer sem o medicamento e o benefício que ele trará, mesmo considerando-se suas reações adversas.

Se ainda tiver dúvidas, encaminhe-as para o Centro de Informações sobre Medicamentos (CIM) do curso de Farmácia da UniSantos. O contato pode ser pelo e-mail cim@unisantos.br ou por carta endereçada ao CIM, avenida Conselheiro Nébias, 300, 11015-002.


Prof. Dr Paulo Angelo Lorandi, farmacêutico pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas-USP (1981), especialista em Homeopatia pelo IHFL (1983) e em Saúde Coletiva pela UniSantos (1997), mestre (1997) e doutor (2002) em Educação (Currículo) pela PUCSP. Professor titular da UniSantos. Sócio proprietário da Farmácia Homeopática Dracena.

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